Em 17 de Março de 2007 aqui publiquei um texto com o título "All...grave" Inexperiencia.
Tinha sido avançado alguns dias antes o lançamento da campanha e programa "ALLGARVE" grande medida anunciada para relançar o potencial turístico do Algarve.
Para já, aqui se repõe esse meu texto de Março de 2007:
"Não há nada como uma boa internacionalização. Como já dissemos há alguns dias a outro propósito, o que é preciso é inovar, mostrar-se modernaço, furar o sistema.
E de tanto se querer fazer passar por aquilo que não se é, vem o caricato e o ridículo.
"Allgarve" é o nome que o nosso Governo quer fazer passar nas promoções turísticas do Algarve, inglesando o nome daquele pedaço do país.
Mais apropriado para ingleses ou turistas de regiões onde o inglês seja a língua oficial.
Disse o Ministro da Economia, defendendo esta "dama", que o que está em causa é permitir falar do que é nacional para estrangeiros.
E assim vamos passar a ter de ouvir turistas a dizer: "Ólgarve".
A idéia não é má, só que custa, segundo notícias vindas a público, nove milhões de euros.
Claro que não é má, é péssima.
Mas por este andar, e porque felizmente Portugal não tem apenas o Algarve como região turística, vamos daqui a algum tempo adoptar o nome de "Alldouro", "Allminho", Allbeiras", "Alltroia", e por aí fora.
Valha-nos um santo qualquer que nos livre de tamanha estupidez.
Será possível que se gaste uma fortuna numa promoção turística disparatada, ainda por cima apoiada por um Ministro?
Mas esta gente ainda não percebeu que a rentabilidade dos recursos turísticos não está na cosmética publicitária?
Alguém acredita que é por causa do nome que o Algarve fica a perder em termos de atracção turística quando em confronto com os seus adversários mais directos e próximos, a saber, o sul de Espanha e todas as ilhas espanholas?
Isto para já não falar da Catalunha, da Galiza, do País Basco.
Não vêem que a razão da diferença está nos preços praticados e na qualidade dos serviços?
Como é que se quer promover o aumento de turistas numa determinada região do país se não são dadas condições para os promotores turísticos poderem praticar preços mais competitivos?
Não há ninguém que consiga conter a gula dos nossos agentes do sector, e fazê-los não quererem ganhar tudo de uma vez, garantindo a criação de uma mercado atractivo e com potencial de crescimento?
E depois...porque é que só o Algarve?
O resto do país não existe?
E não seria até mais indicado gastar dinheiro na promoção, por exemplo, do Douro, sabendo reconhecer que o Algarve muito dificilmente ultrapassará os níveis já atingidos porque deixaram que ele se tornasse numa selva de betão armado?
E a Madeira?
E os Açores?
Porque será que a um português da classe média fica mais barato ir passar uns diazitos de férias a Marbella ou Torremolinos, às Baleares ou às Canárias, do que ficar por cá, seja no Algarve, no Douro, no Alentejo ou nas nossas ilhas?
Ao contrário do que possa parecer isto não é visão estratégica, é pura cegueira.
Vai ser giro ver daqui a uns tempos os nossos confrades europeus, por exemplo os franceses, adoptarem as designações de "Allbretanha" ou "Allcoted'azur", ou os italianos "Allportofino", "Allsicilia", etc...
De facto às vezes não é mais possível ter pachorra para a asneira."
Em Agosto último aconteceu aquela tragédia na praia Maria Luísa e, logo no dia seguinte, salvo erro 22 de Agosto, Eduardo Dâmaso escreveu no Correio da Manhã que gastos milhões no "Allgarve" bom seria não deixar morrer a galinha dos ovos de ouro por inanição.
O promotor da idéia, o ex-ministro Manuel Pinho, já não estava em cena em Agosto.
E qual foi o benefício que os portugueses tiveram com o "ALL"?
Talvez seja melhor terminar por hoje tal como em 17 de Março de 2007:
De facto às vezes não é mais possível ter pachorra para a asneira.